Esta é mais uma história da minha vida... poderia ser para chorar , mas é mesmo para rir....
Cerca de 7h15 da manhã e quando descia a Rua das Amoreiras, ouvindo os pássaros, meti o pé num grande buraco. Como a rua é inclinada e como estava no sentido descendente não me consegui equilibrar e cai num grande buraco .
Passou uma senhora e, como percebeu que eu não me conseguia levantar, prontificou-se a chamar um táxi. Fiquei muito triste, não pelo sangue que corria, mas pelas minhas calças novinhas, que eu estreava nesse dia. Cheguei ao Banco, fui logo pôr gelo na perna que estava pior, a direita...
Comecei com suores frios e quase a desmaiar. Aí fiquei um pouco receosa, porque ainda estava sozinha. Mas, qual alentejana de boa cepa, endireitei-me, sacudi a cabeça para despertar e… aquilo lá passou.
Já tinha ido buscar a caixa dos primeiros socorros para tratar a ferida na mão direita e olho para a caixa, que tinha um número de emergência a dizer ''' Médis Sinistros''' ... e digo: “Baril, vou ligar para a Médis para perguntar sobre os suores...” Podia eventualmente ter que começar a pensar no testamento e assim ia adiantando...
Liguei para o dito número e dizem-me :
— Mas afinal a Sra. é beneficiária de que Rede?
— Da Medis — disse.
— Ah, mas isto aqui agora é da Fidelidade... tem que ligar o ............. .
Bem mandada, liguei e dizem-me:
— Mas afinal a Sra. é beneficiária de que Rede?
— Da Médis. — disse.
— Ah, mas este número agora é Império Bonança ... Ligue ...
Pensam que eu desisti? Claro que não! Queria saber acima de tudo como acaba a história, e liguei o outro número de emergência claro (eram todos números de emergência...). De lá dizem-me:
— Mas a Sra. é de que rede?
— Da Médis. — disse eu.
— Ah, aqui é da Médis, mas o número de emergência de sinistros é só a partir das 9h, tem que telefonar mais tarde !
É como a guerra do Raul Solnado, a guerra ainda estava fechada .
Bom , a dor nos dois joelhos começou a piorar, e resolvi ir de táxi para o SAMS.
Quando lá cheguei puseram-me numa cadeira de rodas . A enfermeira que me empurrava fazia uma força enorme e dizia :
— Esta cadeira está tão velha que já não anda.
Chegámos ao pé da médica e disse a médica :
— Olhe que tem a cadeira trancada!...
Antes de fazer o raio X pedi à enfermeira para me levar à casa de banho, mas para poder sair da cadeira precisava largar a mala... e coloquei-a dentro do lavatório . A torneira, que era de sensor, começou logo a deitar água, para dentro da mala claro…
Tirei o telemóvel e coitado, pingava por todos os lados, as luzes só faziam pisca-pisca e finou-se .
Enquanto esperávamos pelo resultado do raio X, disse a enfermeira :
— Mostre lá o seu telemóvel . Vou secá-lo no secador de mãos, enquanto esperamos…
Ele só fazia pisca-pisca e nada de recuperar...
Disse ela para o enfermeiro:
— Ó Celso, tira aí um raio X ao telemóvel !
Voltei para a médica e aqui vêm as boas notícias :
— Não está nada partido, mas os tendões estão muito danificados, repouso absoluto e três dias de baixa ......
Despedi-me da enfermeira Ana e disse-me ela:
— Ainda bem que apareceu, já nos rimos um bocadinho, a Senhora é muito divertida.
— Bolas, bolas, não é por nada, mas espero nunca mais a ver. — disse eu .
Vou à farmácia para trazer os medicamentos, tirei a carteira e… tudo molhado…. Mesmo assim o cartão funcionou . Coloquei o telemóvel numa carteira de fecho para ficar mais protegido .
Apanhei um táxi. O taxista viu-me a coxear e perguntou o que me tinha acontecido. Lá contei a história toda.
Vou tirar o dinheiro para o táxi e não vejo o telemóvel.
— Bolas, mas então como é que desapareceu se o meti numa bolsa… Se calhar não fechei a bolsa ...
Diz o taxista:
— Deixe lá, menina, se tivesse perdido a carteira era pior, agora não me podia pagar.
Mas de repente começou uma coisa a trepidar, era o telemóvel a tocar, a bolsa estava rota e o telemóvel tinha caído para o forro da mala, que estava roto.
Diz o taxista:
— Deixe lá que ontem aconteceu-me uma pior. Apanhei uma cliente para a Charneca de Caparica. Quando lá cheguei, ela deu um grito que me assustou, e perguntei o que era : “Ai, enganei-me não queria vir para aqui, eu tinha que ir mas era para casa da minha filha.” “E então onde mora a sua filha?” “Em Lisboa, na Graça... — disse ela.
Diz-lhe o taxista : “No meio da desgraça tem sorte, porque a viagem de volta já está paga, vamos lá embora de volta para Lisboa ...”
“Boa disposição é que faz falta...” — escrevi isto para disfarçar as dores.
Luisa Carrilho, RVCC de nível secundário, grupo 25