Novas Oportunidades a Ler+
Três poemas de José António Ferreira
10-05-2012 18:19Delicatessen
Natural e bela como uma flor
fria e dura como pedra
Forte e sóbria como as árvores
tímida como uma criança
Linda como mulher
A frieza aumenta a dor
mas apaga a chama
aprendemos a gostar sem querer
Longe muito longe
Já não sei como foi
Já não quero saber
Trinta segundos de vida
A mão na mão
O medo no peito
A saudade do momento
Foi bonito e verdadeiro
Não foi sentimento passageiro
Nem amor de Verão
Ficou a saudade de nada
Fica a memória guardada
Delicatessen doce delicatessen
O prazer de matar
A noite mal dormida
O café quente da manhã
E a jornada continua
Anedotas,riso , brincadeira
E lá vamos ganhando terreno à distância
Frio, muito frio lá fora
Uma noite estrelada que acaba
Dando lugar ao sol
A visão magnífica do nascer do sol na planície alentejana
Um mar nunca de antes navegado se aproxima
São as águas do Alqueva a brilhar ao longe
Tenho saudades de ontem
Mas gosto muito deste amanhã
Moura, Amareleja, Barrancos,
O Alentejo mitico e profundo
Terra de caçadores
Vieram de todos os lados,
para ver o mato a tremer
Os cães a ladrar
O grunhir agonizante,
O cheiro a pólvora
A adrenalina ,
Só nós é que sabemos
Não ,não é o cheiro a sangue que nos faz andar
É a alegria de viver
Viver livre e selvagem como os homens
Aqueles homens de ontem
Aqueles que aprenderam a viver caçando
Que inventaram a roda
que descobriram o mundo
A alegria de viver a experiência única ,
Começa a montaria.
O som de cães e cornetas ecoa no ar
Tiros e mais tiros
O monte ganha vida de repente,
O mato a partir
O galope elegante do Veado
A corrida treslocada do Javali
A caminhada cautelosa da Raposa
O voo da perdiz como o saltitar do Coelho
ou o bambolear do Texugo
e o chilreado do Melro,
São tão poderosos, selvagens e belos
como o nascer do sol,
e o rebentar das ondas do mar.
É o prazer de matar,
Sim de matar!
De matar para renascer e voltar a viver
A viver livre e selvagem
Puro e leal
como só um monteiro sabe ser.
Toda a vida em 30 segundos
Ela veio sem avisar,
Já lá vão alguns anos,
Não sei quantos ,
Nem me quero lembrar.
Pensei que ficava sem ti
Branca e fria como pedra
Estavas morta nos meus braços
Em tudo eu pensei
Tanto anos felizes
Um choro de criança
O teu sorriso na cabeça
O fantasma da morte a pairar
Tanto ainda por fazer
A noite lá fora
Tantos risos e abraços ainda para te dar
A respiração ofegante
O teu sorriso, sempre o teu sorriso
O aperto no estômago
Mil e um pensamentos
A cabeça dava voltas e mais voltas
Toda uma vida em 30 segundos
Momento estranho de solidão
Angústia, frio ,calor e tempo,
Tempo e mais tempo sem fim
Por fim a calmia
A patética sensação de vazio
Tudo acabou,
Como um sonho,
Voltei a sentir o calor da tua pele
Voltei a ver o brilho dos teus olhos
Olá, meu amor ,não saberia viver sem ti!
—————