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Na mira de uma amiga

28-06-2011 18:35


Há quatro, ou cinco, anos atrás vivi uma situação que serve, pelo menos a mim serviu, para ilustrar o quanto a natureza é de uma riqueza inesgotável e que todos nós nos devemos empenhar ao máximo na sua preservação, para que as gerações vindouras possam também elas desfrutar de toda essa beleza.
Num domingo, depois de almoçar com os meus pais, resolvi dirigir-me ao Cabo Espichel para tirar umas fotografias ao pôr-do-sol. Como era ainda cedo decidi fazer a viagem, junto ao mar, atravessando a Serra da Arrábida. Ia conduzindo enquanto me deliciava com a magnífica paisagem desta reserva natural (por vezes muito maltratada pelo Homem), sempre com a máquina fotográfica pronta a ser utilizada num qualquer registo que me chamasse a atenção. Quando circulava perto do Portinho da Arrábida eis que surge um óptimo motivo para fazer uns disparos.
No meio do mato, junto à estrada vislumbrei uma raposa que se deslocava devagar e que, ao ver-me passar, resolveu parar. Uns metros mais à frente, resolvi fazer inversão de marcha para tentar fotografá-la. Como a minha “amiga” ainda se encontrava no mesmo local, parei e desliguei o carro. Sabendo que se tratava de um animal muito esquivo, empunhei rapidamente a máquina fotográfica e fiz uns disparos rápidos antes que ela fugisse. A reacção deste animal perante a minha presença foi a que menos esperava: depois de me observar durante uns segundos, começou a andar lentamente e atravessou a estrada para a berma onde eu me encontrava. Passou pela frente do meu carro e continuou a sua marcha ao longo do mesmo. Para poder tirar umas fotos de mais perto, desloquei-me para a traseira do carro, ajoelhei-me e, pronto a disparar, esperei que ela aparecesse. Assim que ficou debaixo de mira, comecei a disparar antes que ela se assustasse e fugisse. Se já estava surpreendido, mais fiquei quando ela, a cerca de dois metros, parou e ficou a olhar para mim. Sem saber o que esperar, num gesto instintivo, estendi a minha mão na sua direcção. Para meu espanto, a raposa encaminhou-se para mim. Cheirou a minha mão, lambeu-a, mordiscou-a suavemente, voltou a lamber, afastou-se um pouco e sentou-se. Como não estava assustada nem parecia ter intenções de se afastar, resolvi abrir a bagageira do carro, partir um dos chouriços que a dona Ema (minha mãe) me tinha dado e oferecer um pedaço à minha nova “amiga”. Desta vez a sua reacção não me surpreendeu. Ao ver aquele delicioso petisco voltou a dirigir-se a mim e começou a comer sem nunca tentar sacar o chouriço da minha mão. Terminada a refeição voltou a afastar-se um pouco, sentou-se e por ali ficou a lamber-se enquanto lhe tirei mais umas fotos. Passados dois ou três minutos, talvez cansada de olhar para mim e por ter percebido que não teria direito a mais chouriço, afastou-se lentamente e desapareceu no meio da vegetação.
Para a história ficou o registo da minha mira.
 
Orlando Pereira, RVCC Nível Secundário, Grupo 20
 

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