Novas Oportunidades a Ler+


Da autobiografia de Cristina Bernardo

25-03-2011 18:25

 
(...) A minha infância foi recheada de livros e a leitura foi um hábito que nunca abandonei. Nestes anos todos a leitura era o meu passatempo preferido, nas férias escolares, sobretudo nas de Verão que eram longas. Mesmo quando já ia trabalhar no Verão, andava sempre com os meus livros atrás, e também jornais, revistas, especialmente revistas de culinária. Comecei a cozinhar aos 12 anos e a culinária nunca mais deixou de ser uma das minhas grandes paixões, mas a maior de todas era e é a leitura. Tenho imensos livros, alguns que ainda não li, mas a maior parte já. Mesmo sem saber quando terei tempo para os ler, vou comprando livros. ”Um homem que não lê é um homem indefeso e vulnerável. Um homem que não lê não está preparado para enfrentar as subtilezas da vida. Mesmo numa pequena e isolada aldeia, um homem que lê sabe que há outros mundos. Um homem que não lê não tem horizontes para além dos seus” (Helena Marques, escritora em “Visão”)
O primeiro livro não infantil que li foi Esteiros de Soeiro Pereira Gomes. A partir daí os livros nunca mais me abandonaram, ou eu nunca mais os abandonei. Viagem ao Mundo da Droga, O livro de San Michele,  Servidão Humana, Admirável Mundo Novo, Regresso ao Admirável Mundo Novo, Filhos da Guerra, Mandala, Os Maias, As aventuras de João Sem Medo, Spartacus, Ana Karenina. Os poemas de Florbela Espanca, Camões e Fernando Pessoa e muitos, muitos mais. Não sei porquê, mas nunca li o Diário de Anne Frank, nem nenhum Harry Potter; o último livro que li foi O Anibaleitor, de Rui Zink e gostei muito. As Aventuras de João Sem Medo é um livro memorável. Todos os jovens deviam lê-lo! Aliás todos os jovens deviam ler, nem que fosse o jornal. Foi através da leitura que cheguei a outras artes como a música, a pintura, a escultura, o cinema...
Não posso dizer que algum livro me tenha marcado mais do que outro, ou que haja um livro de que tenha gostado mais do que outro, talvez um escritor me tenha marcado mais do que outro. Os livros que li são de escritores muito diferentes que escreveram em períodos de tempo muito diferentes, alguns do século XIX e anteriores e outros já do século XX. Li diversos livros de John Steinbeck (As Vinhas da Ira, A Leste do Paraíso, A um Deus Desconhecido) e talvez tenham sido estes os livros que mais me impressionaram. O modo como dá vida às personagens, como analisa os seus sentimentos e pensamentos, como mostra o que de melhor e pior existe num ser humano. A maldade de Kate que fez com que Caim, como na Bíblia, provocasse a morte de Abel. A Leste do Paraíso e As Vinhas da Ira deram origem a filmes com os mesmos nomes, genialmente interpretados por James Dean e Henry Fonda, respectivamente. Em As Vinhas da Ira, a forma como o escritor nos leva a observar o que naquelas vidas ocorre é tão real, que às vezes até parece que fazemos parte da história, do enredo. Steinbeck descrevia uma América rural e pobre na década de 20 do século passado, em que havia uma forte ligação à terra e ao que ela produzia. Em plena recessão, falava de gente que passava fome e era oprimida pelo sistema financeiro e económico. Numa América supostamente livre, fala de pessoas que não têm e não podem ter opinião, que são oprimidas e humilhadas pelo sistema social e financeiro. Fala de solidariedade entre pessoas que passam fome e que não têm nada para partilhar, mas mesmo assim estão solidários e partilham o nada que têm com outros que ainda menos têm. Fala de uma família de gente honesta e sofrida e que muito sofria para sobreviver, o que me fez recordar as minhas origens e um Alentejo pobre, rural e muito atrasado onde nasci.

Cristina Bernardo, RVCC Nível Secundário, grupo 20
 

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