A minha relação com a leitura

A minha avó paterna foi uma grande referência para mim e é uma pessoa que apesar de já não estar fisicamente entre nós, hei-de sempre recordar com muito carinho. Lembro-me perfeitamente que muitas vezes, à noite, depois do jantar, eu e o meu irmão sentávamo-nos no chão da sala de estar, em frente à minha avó que se sentava numa poltrona com o regaço cheio de fruta, fruta essa que ia partindo, descascando e distribuindo por nós, enquanto nos contava histórias fantásticas que, segundo ela, eram reais e tinham acontecido na sua aldeia quando ela era ainda uma criança. Como eu adorava aquilo! Era sem dúvida para mim o melhor momento do dia.
Esses momentos faziam-me desejar saber ler o quanto antes, pois ela dizia-me muitas vezes: “Muitas pessoas escrevem as suas histórias em livros, quando souberes ler, vais poder ler todas essas histórias as vezes que quiseres”.
A minha avó nunca tinha tido a oportunidade de ir à escola e mal sabia escrever o seu nome. Muito jovem saiu da aldeia onde nasceu para servir em casa de senhores burgueses, tinha uma cultura geral acima da média e falava correctamente o português, mas tinha um desgosto muito grande de não saber ler nem escrever. O rumo que a sua vida tomou, nunca lhe deu a oportunidade de, mesmo em adulta, poder frequentar a escola. Em grande parte por ela, eu ansiava pelo dia, em que fosse para a escola e aprendesse a ler, queria muito poder ler-lhe todos os livros de que falava e ensinar-lhe a escrever correctamente o seu nome, o que mais tarde acabei por fazer. Era uma grande senhora e foi com certeza uma das pessoas mais importantes da minha infância e adolescência. A ela mais uma vez o meu obrigado por tudo e também por me ter incutido o gosto pela leitura e pela aprendizagem.

Paula Moura, RVCC Nível Secundário, Grupo 21