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Um momento difícil da minha carreira

15-02-2012 11:54

Trabalhar numa instituição financeira, pode comportar alguns riscos ao nível da instituição e das pessoas. O caso que vou contar ocorreu no dia 11 de Setembro de 1975, em pleno período PREC, quando o balcão onde trabalhava, na Av. António Augusto de Aguiar foi assaltado. O Balcão abria às 9 horas e logo após a abertura estávamos todos ao balcão no atendimento de clientes. Recordo-me que estava no fundo da sala ao telefone, para obtenção de informações sobre um cheque, quando oiço um estrondo enorme, viro-me e vejo dois indivíduos encarapuçados saltarem  por cima do balcão exigindo o dinheiro que estava na caixa e no cofre. O terror instalou-se e todos ficámos parados. De repente um deles, com uma metralhadora em punho ordena que os homens se agachem de cócoras e se virem para a parede. Eu estava de tal modo com ar apavorado que não me disseram nada e a partir daí fui a única que viu o que se passou, todos os outros estavam no chão. Ao mínimo indício de que nos estávamos a mexer apontavam imediatamente a arma de modo a intimidar-nos. Naquela época, os cofres estavam à vista, situação que deixou de acontecer há muitos anos, mas era esse o nosso caso. O cofre estava em frente da porta da rua, tinha uma porta blindada e a largura da porta tinha pelo menos 50cm. O João Romão foi instado a abri-lo, mas quando começou a abrir a porta, que era pesadíssima e difícil de abrir, o ladrão avançou e o Romão teve a triste ideia de o tentar entalar dentro do cofre. O ladrão que estava a cobrir a operação ficou furioso e disparou dois tiros de metralhadora para o tecto. Eu fiquei gelada e enfiei-me debaixo da secretária.

Obviamente que um tiro faz imediatamente despertar as atenções e isso fez com que resolvessem sair, levando apenas o dinheiro que tinham conseguido tirar do cofre, mais o dinheiro que tinham tirado da caixa. Levaram o dinheiro num grande saco de plástico e iam deixando perder as notas com a pressa de fugirem depois dos tiros. Eram cinco elementos, um no carro, que me lembro ser de cor vermelha, outro à porta na rua, outro à porta do lado de dentro e os dois últimos que roubaram o dinheiro. Foi impressionante, porque apesar de haver uma esquadra da polícia na rua, de os tiros se terem ouvido bem e de termos accionado o alarme, após a saída deles, só passados quinze minutos é que a PSP apareceu. O Balcão fechou, claro, e os jornalistas começaram logo a aparecer para fazer entrevistas. O meu subgerente, Carlos Benedito, convocou então a entrevista para as 14 horas de modo a falar apenas uma vez para toda a imprensa. Os ladrões conseguiram fugir, nós fomos interrogados várias vezes pela Polícia Judiciária e, no final, nunca os apanharam. Fomos informados apenas que os tinham identificado como sendo uma quadrilha internacional que tinha sede na Suíça.

É desde esta data que mantenho muitas reservas a tudo o que os jornais escrevem e à credibilidade de muitas notícias. Apesar de a informação ter sido dada a todos os jornais, ao mesmo tempo, quando fomos ler as notícias nos jornais, verificámos que todos contavam o ocorrido de modo diferente, parecendo assim muitas histórias da mesma história. Mantenho hoje a mesma opinião, porque sempre que oiço ou leio notícias relacionadas com a minha profissão, verifico como existem muitas inexactidões nas abordagens técnicas e como os relatos são muitas vezes parciais. Os mediasão hoje fazedores de opinião e deveria haver mais rigor na transmissão dos acontecimentos. Penso que a necessidade de transformar o mau em tragédia, para poder manter audiências, é um flagelo enorme nos nossos dias e não permite que os meios de comunicação social façam pedagogia, como seria importante fazer, num país ainda longe de estar instruído como seria desejável, de modo a poder pensar pela sua cabeça.
 
Luísa Carrilho, RVCC de nível secundário, grupo 25

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